sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Corte no último capítulo da Mercearia faz o Vitor abandonar o programa, e o resto da equipe decide não continuar.

No programa #48, no bloco das ofertas e das baixas, o Álvaro recomenda o programa “Edimelo Apresenta” que também é veiculado na Mult TV. Ao seu lado, Vitor faz gestos indicando que dita oferta não é boa (polegar para baixo, gesticulação negativa com a cabeça).

Essa atitude não caiu bem na direção do canal, interpretando-a como uma descortesia em relação ao programa colega. A direção me comunicou o seu mal-estar e eu, como produtor do programa, transmiti o acontecido para o Vitor.

No último programa, Vitor faz uma nova referência ao programa “Edimelo Apresenta”. Como se pode ler no post embaixo, o comentário era banal e teria sido irrelevante para a direção, se não existisse o episódio anterior. Mas a ordem foi cortar o segmento, e assim foi feito.

Informei a todos os integrantes sobre o corte. Vitor respondeu então que o programa tinha acabado para ele, e que procurássemos um substituto. Álvaro propôs marcar um encontro para falar pessoalmente sobre o caso, o que fizemos ontem. O grupo decidiu não substituir Vitor, e assim se fechou a cortina da Mercearia Campista.

Vitor disse que eu, a diferença do resto, “entendi” as razões da emissora. Na verdade, eu entendi as razões da emissora. Sem aspas.

Não comparto nem defendo o corte, mas coloco ele no seu devido lugar. Em 52 programas, a Mercearia falou bem (pouco) e mal (o justo) dos políticos, dos comerciantes, dos usineiros, da imprensa, dos empresários e de toda a sociedade campista, sem nunca ter recebido uma ‘recomendação’ para poupar tal o qual. Duvido que tal situação se repita no outros canais de tv locais. E não apenas neles.

Mas havia um limite. Esse limite tinha a ver com a própria MULT TV. Ela não é a FOX, por exemplo, que permite que um de seus programas, Os Simpsons, descasque o canal de Murdoch. Não tem esse senso de humor, que eu admiro. Mas ela não é a única.

Quantos canais de TV, quantos jornais ou revistas permitem que um integrante/programa/colunista fale mal de outro integrante/programa/colunista?

Existia uma clausula tácita que permitia falar com liberdade. Mas também existe uma regra de comportamento que impede que o hospede critique o anfitrião. Precisa haver contrato para isso?

Houve censura na Mercearia? Houve, sim, infelizmente.

O que foi cortado/censurado era importante? Evidentemente, era importantíssimo, tanto para a direção do canal quanto para Vitor.

O corte era um precedente de outros cortes futuros, digamos, alguma coisa relevante? Tenho certeza que não, pois nesse caso o programa, diretamente, não sairia ao ar.

Tenho orgulho de ter idealizado e produzido a Mercearia, e de ter trabalhado com Vitor, Álvaro e Ricardo.

Não lamento que o programa tenha acabado, mas sim lamento as razões pelo qual acabou.

Censura da Mult TV faz Mercearia Campista fechar suas portas definitivamente

Foi bom, muito bom mesmo, enquanto durou. Mas a Mult TV não cumpriu o acordo firmado à moda dos homens decentes: apenas na palavra. E o acordo continha somente uma cláusula, a de que o programa não seria censurado.

Então chegou o dia em que veio a censura, justamente na edição que marcava a volta depois de algumas semanas fora do ar (período em que a TV perdeu todos os equipamentos e teve que obter recursos para comprar novos).

Do programa veiculado nesta semana foi cortado, por decisão da Mult TV, uma referência jocosa que fiz em relação a outro programa da casa, o Edimelo Apresenta. A situação é incrivelmente cândida, e é até difícil supor que seja ela mesmo a razão para a censura ao programa. Álvaro faz uma daquelas cenas brincalhonas de costume e eu comento algo como "desse jeito você vai acabar no Edimelo". Digo "algo como" porque realmente não me lembro da citação exata, e nem mesmo lembrava que ela havia sido feita.

Na edição, veio a ordem para cortar a minha brincadeira com o Edimelo (que não conheço, até me parece boa gente, e creio até que, pelo bom humor que demonstra no programa, não teria se importado, assim como nós na Mercearia sempre rimos dos nossos próprios defeitos, falhas e limitações, tendo até mesmo lido no ar e-mails que esculhambavam com a gente).

O comentário é tão sem importância que, não fosse o Gustavo nos chamar a atenção para o corte, sinceramente eu não teria percebido.

Mesmo assim, decidimos (eu, Álvaro Marcos e Ricardo André) que não poderíamos aceitar o precedente de ter as nossas opiniões controladas por censuras idiossincráticas. Sem falsa modéstia, não precisamos disso e não concordamos com isso [como, a propósito, preconiza o inciso III do artigo VII do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros]. Diferentemente de nós, o Gustavo Oviedo, único da Mercearia que é funcionário da Mult TV, e único de nós que não é jornalista, disse ter "entendido" as razões da emissora.

Lamento muito a necessidade dessa decisão. Gostava muito, repito, de fazer o programa. Passamos nele ótimos momentos e eu até mesmo cheguei a ter esperanças de que algo poderia ser diferente numa TV Comunitária. Nos enganamos. Mas, enfim, fizemos a nossa parte, enquanto foi possível.